"Convite para uma chávena de chá de jasmim"


segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

There ?!?



I do think New Year's resolutions can't technically be expected to begin on New Year's Day, don't you? Since, because it's an extension of New Year's Eve, smokers are already on a smoking roll and cannot be expected to stop abruptly on the stroke of midnight with so much nicotine in the system. Also dieting on New Year's Day isn't a good idea as you can't eat rationally but really need to be free to consume whatever is necessary, moment by moment, in order to ease your hangover. I think it would be much more sensible if resolutions began generally on January the second.

Helen Fielding, Bridget Jones's Diary

R We ...?


But can one still make resolutions when one is over forty? I live according to twenty-year-old habits.


Andre Gide

domingo, 30 de dezembro de 2007

Yeah ;)



Good resolutions are simply checks that men draw on a bank where they have no account.




Oscar Wilde

sábado, 29 de dezembro de 2007

A Year's Longing




New Year's is a harmless annual institution, of no particular use to anybody save as a scapegoat for promiscuous drunks, and friendly calls and humbug resolutions.


Mark Twain

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Say What?!?


It wouldn't be New Year's if I didn't have regrets.
William Thomas

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Eternity


Time has no divisions to mark its passage, there is never a thunder-storm or blare of trumpets to announce the beginning of a new month or year. Even when a new century begins it is only we mortals who ring bells and fire off pistols.


Thomas Mann

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

A New Year's Thought a Day


For last year's words belong to last year's language,
And next year's words await another voice.
And to make an end is to make a beginning.

T.S.
Eliot, "Little Gidding"

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Deuses


Árvores

Parece-me que nunca ninguém há-de
Ver poema tão belo como a árvore.
Árvore que sua boca não desferra.
Do seio doce e liberal da terra.


Árvore, sempre de Deus a ver imagem
E erguendo em reza os braços de folhagem.
Árvore que pode usar, como capelo,
Ninhos de papo-ruivo no cabelo;


Em cujo peito a neve esteve assente;
Que vive com a chuva intimamente.
Os tontos, como eu, fazem poesia;
Uma árvore, só Deus é que a faria.


Joyce Kilmer

Gratidão

A gratidão é a mais agradável das virtudes; não é, no entanto, a mais fácil. Por que seria? (...)

A gratidão não nos tira nada, ela é dom em troca, mas sem perda e quase sem objeto. A gratidão nada tem a dar, além do prazer de ter recebido. (...) Generosidade da gratidão… se a gratidão nos falta com tanta frequência, não será, de novo, mais por incapacidade de dar do que de receber, mais por egoísmo do que por insensibilidade? Agradecer é dar; ser grato é dividir . O egoísta pode regozijar-se em receber. Mas seu regozijo é seu bem, que ele guarda só para si. Ou, se o mostra, é mais para fazer invejosos do que felizes: ele exibe seu prazer, mas é o prazer dele. Já esqueceu que outros têm algo a ver com isso. Que importância têm os outros? Por isso o egoísta é ingrato: não porque não goste de receber, mas porque não gosta de reconhecer o que deve a outrem, e a gratidão é esse reconhecimento, porque não gosta de retribuir, e a gratidão, de facto, retribui com o agradecimento, porque não gosta de partilhar, porque não gosta de dar. O que a gratidão dá? Ela dá a si mesma . É prazer somado ao prazer, felicidade somada à felicidade, gratidão somada à generosidade… O egoísta é incapaz disso, pois só conhece suas próprias satisfações, sua própria felicidade, pelas quais zela como um avaro por seu cofre. A ingratidão não é incapacidade de receber, mas incapacidade de retribuir – sob a forma de alegria, sob a forma de amor – um pouco da alegria recebida ou sentida. É por isso que a ingratidão é tão frequente. Nós absorvemos a alegria como outros absorvem a luz: buraco negro do egoísmo.

Essa gratidão é gratuita, por não se poder exigir dela, ou para ela, nenhum pagamento. O reconhecimento talvez seja um dever, em todo caso uma virtude, mas, observa Rousseau, não poderia ser um direito exigi-lo ou exigir o que quer que seja em seu nome.

Não confundamos gratidão com retribuição de cortesias. Digamos apenas que a gratidão é levada a agir, por sua vez, em favor de quem a suscita, não decerto para trocar um obséquio por outro (não seria mais gratidão, e sim troca): “O reconhecimento ou gratidão é o desejo ou o zelo de amor pelo qual nos esforçamos em fazer o bem àquele que o fez a nós, em virtude de um sentimento semelhante de amor por nós.” É aí que passamos da gratidão simplesmente afectiva, como dirá Kant, à gratidão activa: da alegria retribuída à acção retribuída. (...) O certo é que a gratidão se distingue da ingratidão precisamente por saber ver no outro (e não, como o amor-próprio, unicamente em si mesmo) a causa de sua alegria – pelo que a ingratidão é ruim, pelo que a gratidão é boa, e torna bom.

A força do amor-próprio explica assim a raridade ou a dificuldade (“tudo o que é belo é tão difícil quanto raro…”) da gratidão: cada um, do amor recebido, prefere tirar glória, que é amor a si, em vez de reconhecimento, que é amor ao outro. “O orgulho não quer dever”, escreve La Rochefoucauld, “e o amor-próprio não quer pagar”. Como não seria ele ingrato, se só sabe amar a si, admirar a si, celebrar a si?

Há humildade na gratidão, e a humildade é difícil. ´


Humildade de Bach, humildade de Mozart, tão diferentes uma da outra (o primeiro agradece, dá graças, com génio sem igual, o segundo, poder-se-ia dizer, é a própria graça…), mas ambas comoventes de gratidão feliz, de simplicidade verdadeira, de potência quase sobre-humana, com a serenidade, mesmo na angústia ou no sofrimento, de quem se sabe efeito, não princípio, e contido naquilo que canta, e que o faz ser, e que o arrebata… (...)… Sim, isso que podemos ler na Ética de Spinoza também ouvimos na música, e nas de Bach e de Mozart, parece-me, melhor do que em qualquer outra (em Haydn ouvem-se mais a polidez e a generosidade, em Beethoven a coragem, em Schubert a doçura, em Brahms a fidelidade…), e é o suficiente para dizer a que altura a gratidão se situa: virtude de ápice, e para os gigantes muito mais que para os anões.

A gratidão regozija-se com o que aconteceu, ou com o que é. “A vida do insensato”, dizia Epicuro, “é ingrata e inquieta: ela se volta toda para o futuro.”
Por isso eles vivem em vão, incapazes de se saciarem, de se satisfazerem, de serem felizes: eles não vivem, dispõem-se a viver, como dizia Séneca. (...)

A gratidão (charis) é essa alegria da memória. É o tempo reencontrado, se quisermos (“a gratidão do que foi”, diz Epicuro). (...) O reconhecimento é um conhecimento (ao passo que a esperança nada mais é que uma imaginação); é por aí que ela alcança a verdade, que é eterna, e a habita. Gratidão: desfrutar eternidade.

Não estou persuadido de que a gratidão seja um dever, como pensavam Kant e Rousseau. Mas o facto de ela ser uma virtude, isto é, uma excelência, é atestado pela evidente baixeza de quem é incapaz de gratidão, e atesta a mediocridade de nós todos, que carecemos dela! (...)

Pode ser até que esta às vezes se inverta naquela, a tal ponto o amor-próprio é susceptível: a ingratidão para com o benfeitor, escreve Kant, “é um vício na verdade extremamente detestável ao juízo de todos, embora o homem tenha tão má reputação sob esse aspecto, que ninguém considera inverosímil que seja possível fazer um inimigo mediante benefícios notáveis”. Grandeza da gratidão: pequenez do homem.

Sem contar que o próprio reconhecimento pode ser às vezes suspeito. La Rochefoucauld não via nele mais que interesse disfarçado, e Chamfort notava com razão que “há uma espécie de reconhecimento baixo”. É servilidade disfarçada, egoísmo disfarçado, esperança disfarçada. Só se agradece para se ter mais (diz-se “obrigado”, pensa-se “mais”!). Não é gratidão, é lisonja, obsequiosidade, mentira. Não é virtude, é vício. Virtude segunda, se não secundária, que cumpre manter em seu devido lugar: a justiça ou a boa-fé podem autorizar uma falta com a gratidão, mas não a gratidão uma falta com a justiça ou a boa-fé. Ele me salvou a vida: devo, por isso, impor-me um falso testemunho em seu favor e com isso condenar um inocente? Claro que não! Não esquecer não é ser ingrato, pelo que devemos a determinado indivíduo, o que devemos a todos os demais e a nós mesmos. Gratidão não é complacência. Gratidão não é corrupção.

A gratidão é alegria. Alegria somada a alegria. A gratidão é nisso o segredo da amizade, não pelo sentimento de uma dívida, pois nada se deve aos amigos, mas por superabundância de alegria comum, de alegria recíproca, de alegria partilhada.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

N... de Natal





Bucólica

Vêm do olival os cestos
Sendas por pastagens e lameiros,
À mistura de verbena e dos teus risos.
Na telha de rebordo dos beirais
O rumor do vento. Ninhos em rama
Presos às goteiras. Passos
Pelo chão de urtigas.
Azeite cru na torcida das candeias.
Azeite velho sobre sêmea torrada.
E bagaço. E a alegria das mãos sujas.
Ervas brancas e resedas
Cobrem as cântaras de leite.
Vai anoitecer para nós partirmos.

Joaquim Manuel Magalhães

Where to?


I'm driving home for Christmas
Oh, I can't wait to see those faces
I'm driving home for Christmas, yea
Well I'm moving down that line
And it's been so long
But I will be there
I sing this song
To pass the time away
Driving in my car
Driving home for Christmas
It's gonna take some time
But I'll get there
Top to toe in tailbacks
Oh, I got red lights on the run
But soon there'll be a freeway
Get my feet on holy ground
So I sing for you
Though you can't hear me
When I get through
And feel you near me
I am driving home for Christmas
Driving home for Christmas
With a thousand memories
I take look at the driver next to me
He's just the same
Just the same
Top to toe in tailbacks
Oh, I got red lights on the run
I'm driving home for Christmas, yea
Get my feet on holy ground
So I sing for you
Though you cant hear me
When I get through
And feel you near me
Driving in my car
Driving home for Christmas
Driving home for Christmas
With a thousand memories

domingo, 23 de dezembro de 2007

Convite



Vem aqui, de Creta, a este templo


Vem aqui, de Creta, a este templo
sagrado, onde há um gracioso
bosque de macieiras e altares
onde arde o incenso.


Aqui a água fresca
canta através dos ramos
das macieiras, a sombra
das roseiras cobre todo o recinto
e das trémulas folhas
desce um sono pesado.


Aqui, o prado onde pastam os cavalos
já se cobriu de flores
primaveris e as brisas
sopram suavemente…


Vem, pois, ó cípris, coroada de grinaldas,
e derrama graciosamente nas douradas taças
o néctar associado aos festins.

Safo (VII-VI a.C.)

sábado, 22 de dezembro de 2007

Analogias



As árvores e os livros

As árvores como os livros têm folhas e margens lisas ou recortadas, e capas (isto é copas) e capítulos de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas, as mais fantásticas aventuras, que se podem ler nas suas páginas, no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas, e até há florestas especializadas, com faias, bétulas e um letreiro a dizer: «Floresta das zonas temperadas».


É evidente que não podes plantar no teu quarto, plátanos ou azinheiras. Para começar a construir uma biblioteca, basta um vaso de sardinheiras.


Jorge Sousa Braga

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Feliz Dia :))


Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,

Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exacta para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
Das suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você sentir-se-á bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
À sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afectos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

Proporção :)



A vida perfeita

Não é crescendo à toa,

Como as árvores, que alguém se aperfeiçoa;

Não como o roble, em pé trezentos anos,

E ser madeiro enfim, calvo, seco sem ramos.

Esse lírio de um dia,

Em Maio, tem mais valia,

Mesmo que à noite caia já sem cor:

Foi a planta da luz, era o sol a flor.


Em justas proporções a beleza se ajeita,

E só num ritmo breve é que a vida é perfeita.


Ben Jonson



quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Lugares



No lugar da árvore


No lugar da árvore. No lugar do ouvido.

No lugar do chão. Unidade crepitante

no silêncio aberto no Trânsito. Tronco, calma

bomba indeflagrável, dádiva da identidade.

António Ramos Rosa

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Evocação



Azagaia, Árvore, Sombra


Há objectos que perseguem a nossa infância,
depois, vida fora, esquecem-se os seus mágicos nomes,
a sonhada utilidade que os anima.


Poderíamos pressenti-los dentro de nós,
e isso sucede, por instantes, quando o fundo que os obscurece
se ilumina de repente
e os distinguimos a contra-luz.

Silhuetas animam-se na memória. Uma breve,
quase acessória, viagem no tempo começa.


Luís Quintais

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Testemunhas



Árvore

Sei perfeitamente que uma árvore é um símbolo
obscuro da nossa vida, principalmente da nossa vida
que não houve. Mas mesmo assim
dentro das ruas, dentro das casas
as árvores têm um outro entendimento
um mistério muito delas
- e não completamente inventados -
pois não desprezam a agonia dos homens, o choro dos homens
o seu riso, a sua fome, os sinais todos
que o Homem podia e devia ter.


As árvores começam e acabam sem amor
e sem ódio


Nicolau Saião


segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Exuberante





Árvore Rumorosa

Árvore rumorosa pedestal da sombra
sinal de intimidade decrescente
que a primavera veste pontualmente
e os olhos do poema de repente deslumbra


Receptáculo anónimo do espanto
capaz de encher aquele que direito à morte passa
e no ar da manhã inconsequente traça
e rasto desprendido do seu canto


Não há inverno rigoroso que te impeça
de rematar esse trabalho que começa
na primeira folha que nos braços te desponta


Explodiste de vida e és serenidade
e imprimes no coração mais fundo da cidade
a marca do princípio a que tudo remonta


Ruy Belo

domingo, 16 de dezembro de 2007

Alturas


Los Pinos

Los unos altíssimos
los outros menores,
con su eterno verdor y frescura,
que inspira a las almas
agrestes canciones,
mientras gime al rozar con las aguas
la brisa marina, de aromas salobres,
van en ondas subiendo hacia el cielo
los pinos del monte.


De la altura la bruma desciende
y envuelve las copas
perfumadas sonoras y altivas
da aquellos gigantes
que el castro coronan;
brilla en tanto a sus pies el arroyo
que alumbra risueña
la luz de la aurora,
y los cuervos sacuden sus alas,
lanzando graznidos
y huyendo la sombra.


El viajero rendido y cansado
que ve del camino la línea escabrosa
que aún le resta que andar, anhelara,
deteniendose al pie de la loma,
de repente quedar convertido
en pájaro o fuente,
en árbol o en roca.

Rosalía de Castro

sábado, 15 de dezembro de 2007

Renewal


The trees

The trees are coming into leaf
Like something almost being said;
The recent buds relax and spread,
Their greenness is a kind of grief.

Is it that they are born again
And we grow old? No, they die too,
Their yearly trick of looking new
Is written down in rings of grain.

Yet still the unresting castles thresh
In fullgrown thickness every May.
Last year is dead, they seem to say,
Begin afresh, afresh, afresh.

Philip Larkin

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

ViVer


O pequeno demiurgo

escrevo barco e uma quilha fende o vastíssimo mar

as árvores crescem dos espaços enevoados

entre olhar e olhar movem-se

animais presos à terra com as suas plumagens de ferro

e de orvalho de ouro quando a lua se eclipsa

comunicando-lhes o cio e a nómada alegria de viver

Al Berto

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Saudades do Futuro



As Árvores

Eu espero, sim, que essas árvores cresçam. Adormeço com elas todas as noites, embalado pela sua sombra. Lembro-as de memória, sobre a relva verde. Lembro as suas folhas, caindo de noite. Mesmo as que ainda não vi, eu espero que cresçam, que me esperem, que me abriguem nesse dia em que mais precisarei delas, ouvindo o ruído do mar não muito longe. Tenho, a cada minuto, saudades dessas árvores.


Francisco José Viegas

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Pão Doce :)


Aqui mereço-te
(...)

Abrem-se os novos lábios e eu mereço-te.
É este reino de insectos e de jogos,
das carícias que sabem a uma sede feliz.

Aqui entre o poço e o muro,
neste pequeno espaço de pedra cai um silêncio antigo:
uma infância inextinguível se alimenta
de uma fábula que renasce em todas as idades.

É aqui, minha filha, que dança a fada do ar
com seu brilho sedoso de erva fina
e a sua abelha silenciosa sobre a fronte.

É aqui o eterno recanto onde a água diz
a pura praia da infância.
Aqui bebe e bebe longamente
o hábito da tristeza no silêncio da vida,
aqui, ó pátria de água calada e de pão doce,
da fundura do tempo, da lonjura permanente,
aqui, bom dia, minha filha.


António Ramos Rosa

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

à Nous



Printemps


Il y a sur la plage quelques flaques d'eau

Il y a dans les bois des arbres fous d'oiseaux

La neige fond dans la montagne

Les branches des pommiers brillent de tant de fleurs

Que le pâle soleil recule



C'est par un soir d'hiver dans un monde très dur

Que je vis ce printemps près de toi l'innocente

Il n'y a pas de nuit pour nous

Rien de ce qui périt n'a de prise sur toi

Et tu ne veux pas avoir froid



Notre printemps est un printemps qui a raison.

Paul Élouard

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Pomos



Árvore, cujo pomo, belo e brando

Árvore, cujo pomo, belo e brando,
natureza de leite e sangue pinta,
onde a pureza, de vergonha tinta,
está virgíneas faces imitando;


nunca da ira e do vento, que arrancando
os troncos vão, o teu injúria sinta;
nem por malícia de ar te seja extinta
a cor, que está teu fruito debuxando.


Que pois me emprestas doce e idóneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,

se não te celebrar como mereces,
cantando-te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória.

Luís Vaz de Camões

domingo, 9 de dezembro de 2007

Ode




A uma árvore

Ah!, árvore diante da minha janela, somos parentes,
pois nada pedes a um amigo a não ser isto:
encostares-te à janela e espreitar para dentro
e ver-me andar por ali! Benção que é suficiente

para mim, que decidi ficar por detrás do caixilho,
cheia das minhas pequenas tragédias e grotescos desgostos,
para me encostar à janela e espreitar lá para fora,
admirando as infinitésimas folhas.


Marianne Moore e Elizabeth Bishop

Den Vita Stenen - La Pierre Blanche

Pedras são árvores
apenas um pouco
mais antigas

Casimiro de Brito



do baú melancólico da infância :)

sábado, 8 de dezembro de 2007

Ceres e Seres



Cada árvore é um ser para ser em nós

Cada árvore é um ser para ser em nós

Para ver uma árvore não basta vê-la

a árvore é uma lenta reverência

uma presença reminiscente

uma habitação perdida

e encontrada



À sombra de uma árvore

o tempo já não é o tempo

mas a magia de um instante que começa sem fim

a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas

e de sombras interiores

nós habitamos a árvore com a nossa respiração

com a da árvore

com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses



António Ramos Rosa


Países, Inverno


Quero um assim ;) ...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Thoughts



Tree at my window


Tree at my window, window tree,

My sash is lowered when night comes on;

But let there never be curtain drawn

Between you and me.



Vague dream-head lifted out of the ground,

And thing next most diffuse to cloud,

Not all your light tongues talking aloud

Could be profound.



But tree, I have seen you taken and tossed,

And if you have seen me when I slept,

You have seen me when I was taken and swept

And all but lost.



That day she put our heads together,

Fate had her imagination about her,

Your head so much concerned with outer,

Mine with inner, weather.

Robert Frost

PartnerShips

Ayer determinaron tu presente
Libre de los ineptos deseos de ayer.
Alégrate de que sin esfuerzo tuyo
Mañana esté también trazado para tí.
Pero mientras el Eterno me eres
Palabra por palabra explicaba
mi lección, amor,
Y tomó mi corazón y de un fragm
formó
Llaves del almacén de la Realidad


Ruba-I-Yyat Omar Al-Jayyam

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Uma Árvore e um Dia

A espessura da árvore
é branca

A casa repercute
os favos de silêncio

Ouço a medula da madeira
o pudor do silêncio jovem

O sangue circula sem bandeiras
ri na brancura
do corpo

Um rosto sob a cabeleira
rompe
no ardor do instante
em relâmpagos de ternura

Todas as hastes livres nascem
do quadrado aberto
sobre o rio

A palavra é um rosto que deixa ver o branco
do seu tremor

Do branco ao negro o branco
fogo
de uma árvore que estala em cada mão

O tronco antigo
é a casa nova
nos seus ramos vivos

Não uma escrita invulgar mas como as ervas
pobres. Como as pedras.

Tu poderás captar o esplendor
chamar-lhe-ás suave sob um sono de árvores.

Caminharás entre as plantas. Sentirás a sua sede.
E o olhar abrir-se-á no escuro fresco.

Ninguém te dirá que não te perdes na
densa água negra. Ou no branco papel.

Nunca apagarás o desejo.
Nem desistirás de procurar o lugar
ainda que lhe chames ausência.

Procura e não procures. Não existe um centro.
Mas a clareira por vezes
de súbito retém-nos.

António Ramos Rosa
A Espessura é Branca


Internacional, Interior




Frohlichen Nikolaus

A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em um ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
Alberto Caeiro,
A Criança
Was die Kinder in der Weihnachtszeit in ihren Träumen sehen,werden große Leute so wie ihr wohl niemals ganz verstehen.
Jedes Kind macht sich sein eigenes Bild und es glaubt ganz fest daran,darin gibts bestimmt den Nikolaus und auch den Weihnachtsmann.


Nikolaus und Weihnachtsmann - Rolf Zuckowski

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Manual de Princesas


Truques e Astúcias Para Distinguir uma Princesa Verdadeira de uma Falsa

Muitas meninas gostariam de ser princesas. Com o tempo, algumas delas desistem desta pretensão e vão perdendo as suas ilusões. Diz-se então que cresceram.
Contudo, outras perseguem este sonho como uma ideia fixa, um último fim. Estão decididas a tudo. Até aos golpes mais baixos. Por isso, existem alguns truques infalíveis para reconhecer uma princesa verdadeira ou para desmascarar uma impostora. Aqui está:

- Uma verdadeira princesa nunca calça meias. Nem em pleno Inverno!
- Uma verdadeira princesa nunca tira a coroa: dorme com ela, monta a cavalo com ela, nada com ela;
- Todas as princesas, sem excepção, cantam no banho;
- Uma princesa não rói as unhas - pelo menos em público -;
- As princesas são, por vezes, cruéis;
- Nem todas são bonitas;
- Uma verdadeira princesa não come frango com as mãos - embora possa comê-lo com os pés -

Truques e Astúcias Para Acordar Princesas Adormecidas

O beijo parece ser o método mais radical, o mais eficaz. Basta lembrar o caso da Bela Adormecida e da Branca de Neve.
Há, contudo, princesas que têm o sono pesado. Nesses casos, só há um remédio: o trombone. Um bom balde de água fria é também uma boa solução.
Cuidado com as que têm um acordar difícil. Um príncipe imprudente pagou caro o seu erro. Acabara de depositar um terno e delicado beijo sobre os lábios de uma bela adormecida quando esta, furiosa por ter sido acordada, lhe mandou um gancho seguido de um directo no queixo. Diga-se o que se disser... a profissão de príncipe não é um trabalho fácil!

Truques e Astúcias Para Calar Uma Princesa

Até hoje não se conhece nenhuma solução para calar uma princesa. É assim!

Aluguer

É possível alugar uma princesa.
Por um dia ou por uma hora,
por uma tarde ou por uma semana.
Há todo o tipo de soluções.
Mas tenha cuidado ao escolher a princesa que o vai acompanhar durante as suas férias, ou nas suas festas de aniversário.
Convém não convidar a princesa Comilona do Peloponeso, pois ela comerá o bolo todo antes de terem soprado as velas.
Um conselho: é melhor evitar a princesa Caprichosa: é má perdedora.

Outra coisa: uma princesa fala, fala, fala sem parar.



Philippe Lechermeier, Rébecca Dautremer
Princesas Esquecidas ou Desconhecidas

(um livro de encantamentos)

Fadas, Querubins e ... "não - Afins"


Era uma vez... numa terra muito distante... uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima que se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas. Então a rã pulou para o seu colo e disse:

- Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há-de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar connosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e seríamos felizes para sempre...

Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava... Nem morta!


Luis Fernando Verissimo
Contos de Fadas para Mulheres do século XXI
Imagem: Elsa David

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Frente al Mar


¿La ola no tiene forma?
En un instante se esculpe
y en otro se desmorona
en la que emerge, redonda.
Su movimiento es su forma.

Las olas se retiran
?ancas, espaldas, nucas?
pero vuelven las olas
?pechos, bocas, espumas?.

Muere de sed el mar.
Se retuerce, sin nadie,
en su lecho de rocas.
Muere de sed de aire.




Octavio Paz

The Full Monty



«Monty Python - Autobiografia», é assinada por Terry Gillian (cartoonista), John Cleese, Eric Idle, Graham Chapman, Terry Jones, Michael Palin, que relatam como se juntaram em 1969 ...

... O livro está também ilustrado com dezenas de fotografias dos Python, além de imagens da série televisiva «Monty Python´s Flying Circus», e dos filmes que também os celebrizaram, nomeadamente, «A Vida de Brian», «Os Monty Python e o Cálice Sagrado» e «O Sentido da Vida».

in Diário Digital.pt


Ben Stiller

Reminiscências e associações com laranja, laranja, laranja ...
A subtrair à lista de ofertas ;)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

PreNúncio


Quando contei à Sebastiana que tinha sonhado muitas vezes com aquele lamento das carpideiras numa época precisa, há mais de três anos, quando chegara à aldeia, ela respondeu-me com o ar mais natural do mundo, é que o futuro, filha, sempre lá esteve, a gente é que raramente lá vai. Mas às vezes acontece e em sonhos, então, é quase sempre. Mas não sabemos vislumbrar o que nos está a ser mostrado e pensamos que é maluqueira da nossa cabeça adormecida. Isso assucede com o tempo e também com o espaço, que tu quando sonhas vais a lugares onde pensas que não estiveste e aquilo é outro sítio e outro tempo que tanto pode ser futuro como passado. São poderes que todos temos mas não sabemos usar e se calhar sabendo não tinha a vida o saboroso mistério que tem.
Andei eu a estudar na Sorbonne para vir encontrar a sabedoria num cafundó de restaurante de uma aldeia minúscula condenada à submersão. A vida e o seu saboroso mistério.
Mas a vida também tem mistérios menos saborosos e um deles é eu não saber resolver a relutância do meu corpo em acatar os desígnios da minha mente.
Cada vez mais receosa de estar a arrastar o Ivo para uma situação insustentável, comecei a pensar se o certo não seria regressar a França, terminar ali, no dia 1 de Setembro, a minha modesta profissão de recolher lendas e costumes da aldeia dos meus antepassados, de testemunhar o seu destino náufrago e lançar às águas do rio um derradeiro adeus numa capela de rosas cor de fogo.


Sonhei.
Caminhava por uma estrada e era de noite e eu tinha pressa porque as águas me perseguiam e eu não tardaria a afogar-me. Tinha que chegar à encruzilhada antes que a manhã nascesse e eu vinha ofegante, com o coração a bater-me na garganta e as sandálias molhadas de uma língua de rio que me lambia os calcanhares.
Mas estava escuro e não via nenhum caminho, ainda não era ali, e os meus pés começavam a dissolver-se quando avistei ao longe, na primeira claridade da aurora, uma estrada que atravessava a minha e pareceu-me um bom prenúncio este clarear de madrugada.
Por fim cheguei.
No centro da encruzilhada havia uma roseira cor de fogo que teria de contornar antes de fazer a minha escolha.
Então parei e com a carícia insidiosa da água já nos tornozelos, já nos joelhos, olhei em volta e soube que se fizesse a escolha errada seria engolida pelo rio.
(…)

Atravessei (…).
Já estava abraçada ao menino da minha redenção que me ensinou que o caminho é em frente e só o amor tem a força de apartar as águas.



Rosa Lobato de Faria - O Prenúncio das Águas