"Convite para uma chávena de chá de jasmim"


quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Uma Árvore e um Dia

A espessura da árvore
é branca

A casa repercute
os favos de silêncio

Ouço a medula da madeira
o pudor do silêncio jovem

O sangue circula sem bandeiras
ri na brancura
do corpo

Um rosto sob a cabeleira
rompe
no ardor do instante
em relâmpagos de ternura

Todas as hastes livres nascem
do quadrado aberto
sobre o rio

A palavra é um rosto que deixa ver o branco
do seu tremor

Do branco ao negro o branco
fogo
de uma árvore que estala em cada mão

O tronco antigo
é a casa nova
nos seus ramos vivos

Não uma escrita invulgar mas como as ervas
pobres. Como as pedras.

Tu poderás captar o esplendor
chamar-lhe-ás suave sob um sono de árvores.

Caminharás entre as plantas. Sentirás a sua sede.
E o olhar abrir-se-á no escuro fresco.

Ninguém te dirá que não te perdes na
densa água negra. Ou no branco papel.

Nunca apagarás o desejo.
Nem desistirás de procurar o lugar
ainda que lhe chames ausência.

Procura e não procures. Não existe um centro.
Mas a clareira por vezes
de súbito retém-nos.

António Ramos Rosa
A Espessura é Branca


Internacional, Interior




Sem comentários: