"Convite para uma chávena de chá de jasmim"


domingo, 21 de outubro de 2007

Dia Nacional/Mundial/Internacional para ..pensar!?!


Chateiam-me sobremaneira, a nível público ou privado,os dias instituídos por decreto para pensar, para nos consciencializarmos do nosso papel na sociedade e para nos lembrarmos dos outros. Recentemente "comemorou-se" - a palavra foi ironicamente escolhida - o dia qualquer coisa de luta contra a pobreza. Em cada blogue que visitava lá me deparava eu com ícones alusivos, posts descritivos, informativos,com estatísticas e testemunhos num tom pesaroso,denunciador, reprovador: "recensões" e dissensões críticas sobre o tema. Lá vinham as imagens de África, Ásia estando a objectiva pré-programada para captar rostos e corpos de mulheres e crianças. Nisto de pobres..que se lixem os homens! O rosto condoído de uma mulher deve perturbar mais a consciência mundial do que um esqueleto ambulante - quando ainda tem forças para o mover - masculino.

Referia-se o caso português, a "evolução" das assimetrias sociais; apelava-se ao compromisso, à participação activa. Quase todos os artigos e comentários que li evidenciavam testemunhos de cidadãos consciencializados e envergonhados com o "status quo", imbuídos de um espírito de entreajuda conducente a uma trabalho activo e empenhado nessa "cosa nostra". Quando o que mais oiço é "não tenho tempo para nada" apraz-me registar que, os que por estas paragens vagueiam, são malabaristas do tempo, pessoas disciplinadas capazes de incorporar todos os seus múltiplos deveres num dia de trabalho..compulsivo e voluntário!

Se o tom de certos posts era incisivamente militante não ficava aquém do dos comentários: compromissos de honra dirigidos ao(s) administrador(es)/autor(es) dos blogues reiterando não só a sua participação real e efectiva levada a cabo diariamente nos seus domínios pessoal e profissional como se endereçavam ainda promissores "mas se mais for preciso..cá estarei".Um mimo este, hein? Ainda me questionei...mas este vai organizar uma actividade com um impacto prático, objectivo e imediato que despoletou no/a visitante um assomo hormonal e irreprimível de solidariedade?

Não li posts sobre os sem-abrigo da zona de residência dessas pessoas; não li sobre a recusa de trabalho ou de espírito de sacrifício de alguns que, convenhamos, dá emprego a vagas de imigração; não li sobre trabalho voluntário em instituições ou em ajuda prestada à família de um vizinho que tem um filho deficiente profundo, uma mulher cuidando do seu marido com Alzheimer necessitada de, além de tempo para si, algo mais sólido e imediato. Li críticas à Declaração do Milénio assinada na ONU em 2000 e à falta de cumprimento dos seus oito princípios estruturantes, sendo que o do combate à pobreza era um dos prioritários, a par do combate a discriminações e à sustentabilidade ambiental. Não li sobre Gisberta, violentamente agredida num parque abandonado a que chamava "lar", tão perto de um hotel de cinco estrelas; não me deparei com encómios à tolerância e à sua garra quando, aconselhada a sair, afirmou tão somente: "Posso estar muito mal, mas continuo a ter a força (de um homem) não vai ser por causa de uns miúdos..." Não li também muitos posts de anuimento quando Gore ganhou o Nobel da Paz - ainda na sequência da declaração das supostas 189 "nações unidas".

Aliás, hoje ligo o computador e fico a saber que Giuliani anda num corropio eufemístico, vulgo "arranjar desculpas" para en/reformar as suas convicções, ou melhor, as suas declarações. Passo a citar: "Giuliani appealed to his audience to look beyond his support for abortion rights and focus on shared values, such as fighting crime and his vow to relentlessly pursue the war on terror". Na sequência do olhar para lá de ... lá vai o desvio de olhar e memória para os direitos das minorias sexuais, étnicas,etc, etc..

Onde está a indigência? Quem são os pobres? E quem são os tristes?

A imagem contém linguagem imprópria a que os americanos são alheios, nada lhes podendo, consequentemente, ser imputado. O texto é em inglês e quanto ao nível/registo de língua ...bem... esse é europeu, como denota a expressão polida que antecede o vernáculo: "Pardon my French".

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