Um dos meus livros preferidos e que agora, com outra (matur)idade releio, descobrindo detendo-me em diferentes recessos. Eis excertos do texto introdutório da autoria de Sartre:
" O absurdo não está no homem nem no mundo se os tomarmos separadamente; (...)é unitário com a sua condição humana. (...)É uma uma iluminação desolada que no-lo revela: os gestos de levantar, carro eléctrico, quatro horas de escritório ou de fábrica, refeição, carro eléctrico, quatro horas de trabalho, refeição, sono, e segunda-feira, terça, quarta, quinta, sexta, sábado no mesmo ritmo..e depois, de repente, os cenários desabam e acedemos a uam lucidez sem esperança. Então, se sabemos recusar o socorro enganador das religiões ou das filosofias da existência, temos algumas evidências essenciais: o mundo é um caos, uma divina equivalência que nasce da anarquia; - não há amanhã, visto que se morre..Num universo subitamente privado de ilusões e de luzes o homem sente-se um estrangeiro. Tal exílio é um recurso visto que está privado das recordações de uma pátria perdida ou da esperança de uma terra prometida. É que, com efeito, o homem não é o mundo..Se eu fosse árvore entre a´rvores..esta vida teria um sentido, ou melhor, este problema é que não o teria, porque eu faria parte deste mundo, seria este mundo ao qual agora me oponho com a minha consciência..Esta razão tão irrisória que me opõe a toda a criação.
O homem absurdo não se suicidará: quer viver, sem abdicar nenhuma das suas certezas, sem dia seguinte, sem esperança, sem ilusões e também sem resignação. O homem absurdo afirma-se na revolta. Fixa a morte com uma atenção apaixonada e esta fascinação liberta-o: conhece a divina disponibilidade do condenado à morte . Tudo é permitido visto que Deus não existe e visto que se morre. (...) O presente e a sucessão de presentes perante uma alma sempre consciente é o ideal do homem absurdo. (...) O homem absurdo não explica; descreve.(...) O absurdo é o divórcio, a deslocação. O mais seguro dos mutismos não é calarmo-nos mas falarmos."
Jean-Paul Sartre
Introdução a O estrangeiro, Albert Camus
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