(...)
"estou a adiantar-me, doutor, eu sei que sim, agora tenho mesmo a certeza porque nem o vejo a tirar notas, quererá deixar-me terminar para depois ditar-me uma sentença.
Sabe o que custa cumprir uma sentença
(...)é que, confesso ainda, me faz aflição você não dizer nada, tinham-me avisado do tempo
Acabou-se o tempo
mas não da sua postura, esse silêncio qu enão sei como entender, ou é extraordinariamente inteligente e oberva-me de um patamar que não, nuncahei-de vislumbrar, ou não conseguiu ouvir nada do que eu digo, ou não quer ouvir nada do que eu digo, assim que o qu edigo foge à sua grelha de análise, está talvez furioso desagradavelmente surpreendido, e como não sabe o que dizer-me não diz nada
(...)Passei pois dos quarenta, fiz tudo o que o meu pai exigiu, o que penso espero o deixe orgulhoso, tenho filhos, esposa, emprego de reputação, profissão liberal, sou dos melhores no meu ramo, mas não consigo deixar de pensar, doutor, que a meio da vida já fiz o que tinha a fazer, o que era suposto fazer
Pode morrer em paz pai
que faço agora com o que me resta, ninguém me preparou, daí talvez buscar respostas, haverá resposta concludente, como me justifico à menina que foge do pai, o homem que consegui voltasse tranquilo a casa, a abrir garrafões e a sorrir, apesar de desagradavelmente surpreendido por lhe ter baralhado diagnósticos há ainda uma outra coisa que gostaria que escutasse
Pois é
Imagino que acabou o tempo
É
Tem uma vista lindíssima, os barquinhos no rio
Pois é
Serei para si ainda um fulano. Ou consegue ver-me."
in A casa quieta, Rodrigo Guedes de Carvalho
"estou a adiantar-me, doutor, eu sei que sim, agora tenho mesmo a certeza porque nem o vejo a tirar notas, quererá deixar-me terminar para depois ditar-me uma sentença.
Sabe o que custa cumprir uma sentença
(...)é que, confesso ainda, me faz aflição você não dizer nada, tinham-me avisado do tempo
Acabou-se o tempo
mas não da sua postura, esse silêncio qu enão sei como entender, ou é extraordinariamente inteligente e oberva-me de um patamar que não, nuncahei-de vislumbrar, ou não conseguiu ouvir nada do que eu digo, ou não quer ouvir nada do que eu digo, assim que o qu edigo foge à sua grelha de análise, está talvez furioso desagradavelmente surpreendido, e como não sabe o que dizer-me não diz nada
(...)Passei pois dos quarenta, fiz tudo o que o meu pai exigiu, o que penso espero o deixe orgulhoso, tenho filhos, esposa, emprego de reputação, profissão liberal, sou dos melhores no meu ramo, mas não consigo deixar de pensar, doutor, que a meio da vida já fiz o que tinha a fazer, o que era suposto fazer
Pode morrer em paz pai
que faço agora com o que me resta, ninguém me preparou, daí talvez buscar respostas, haverá resposta concludente, como me justifico à menina que foge do pai, o homem que consegui voltasse tranquilo a casa, a abrir garrafões e a sorrir, apesar de desagradavelmente surpreendido por lhe ter baralhado diagnósticos há ainda uma outra coisa que gostaria que escutasse
Pois é
Imagino que acabou o tempo
É
Tem uma vista lindíssima, os barquinhos no rio
Pois é
Serei para si ainda um fulano. Ou consegue ver-me."
in A casa quieta, Rodrigo Guedes de Carvalho
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