"Convite para uma chávena de chá de jasmim"


sábado, 13 de outubro de 2007

Estado laico..ou talvez não


Uma nova Igreja foi inaugurada ontem em Fátima baptizada "Santíssima Trindade".Se da hierarquia eclesiástica não estive presente a figura do Pai enviando, em seu lugar, um filho imbuído de um espírito "santo", já o poder temporal teve o pai "in loco", o filho anfitrião em Belém e o espírito mediático a reportar e difundir todo o evento.
Se as ligações divino / temporal me incomodam, assistir a reportagens acerca da coerência ou coincidência da mensagem Mariana com a revolução russa, deixa-me num arrebol!Tivesse o "segredo" sido desvendado "a priori" e o curso dos acontecimentos históricos,na já então União Soviética, teria sido diverso? A ideologia marxista-leninista ter-se-ia mostrado tolerante para com princípios, cultos e ícones religiosos? Teria havido lugar a um estado plural e democrático? Os Mencheviques continuariam no poder e o ideário da revolução de Fevereiro triunfaria aproximando o Oriente do Ocidente em termos ideológicos e políticos? E Por que optaria a Madonna por uma condenação tão veemente a um dos blocos ideológicos? E ..por que não usar Ela do seu poder e libertar os seus filhos oprimidos? Porquê este delegar de competências? Porquê o Seu silêncio ou ausência de protagonismo / evidência actuais? Insondáveis os desígnios metafísicos!

"Só falta falar agora dos principados eclesiásticos(..); obtêm-se por virtù ou por sorte e conservam-se sem uma coisa nem outra, porque se mantêm graças à grande antiguidade das instituições religiosas, que são tão fortes e de tal natureza que os seus príncipes conservam os seus lugares, seja qual for o modo como se comportam e vivam. Têm territórios e não os defendem, têm súbditos e não os governam.E, embora os seus estados não sejam defendidos, ninguém se apodera deles;e, embora os seus súbditos não sejam governados, não se importam com isso: não pensam nem podem subtrair-se ao seu próprio governo. Portanto, só estes principados são seguros e felizes. (..)
Contudo, se alguém me perguntasse, com insistência, como se explica que a Igreja se tenha tornado tão grande e tão poderosa no campo temporal (..) e embora a explicação me pareça evidente, não me escusaria a responder.
Antes do rei Carlos entrar em Itália, o país estava sob o domínio do papa, dos Venezianos, do rei de Nápoles, do duque de Milão e dos Florentinos. Estes potentados deviam evitar, principalmente, duas coisas: que algum estrangeiro entrasse em Itália para aí fazer guerra e que algum deles ocupasse mais território do que tinha. Aqueles que causavam mais apreensão eram o papa e os Venezianos. Para sofrear o papa, serviam-se dos barões de Roma - Orsínis e Colonas - empunhando as armas na sua presença e tornando o papado mais fraco e menos poderoso.(...)

Depois surgiu Alexandre VI o qual mostrou bem quanto um papa se podia fazer valer pelo dinheiro ou pela força, através do duque de Valentinois e por ocasião da vinda dos Franceses a Itália.(...)Embora a sua intenção não fosse o benefício da Igreja mas sim o do seu filho, o que fez redundou a favor daquela instituição, pois por morte do papa e do seu filho foi a Igreja que herdou o resultado das suas penas e trabalhos. Júlio II que se sucedeu, achou já a Igreja muito poderosa, senhora de toda a Romanha, com os barões de Roma todos arruinados e as facções abolidas em consequência das muitas perseguições de Alexandre. Encontrou também o caminho aberto para amealhar dinheiro, o que nunca fora praticado antes de Alexandre. O papa Júlio não só continuou tudo isso como lhe deu maior amplitude, metendo-se-lhe na cabeça apoderar-se de Bolonha, expulsar os Franceses de Itália. Todas estas aventuras foram coroadas de êxito e são tanto de louvar quanto é certo que as empreendeu para engrandecer a Igreja e não qualquer particular. (..)
Mas agora Sua Santidade o Papa Leão encontrou um papado muito poderoso e só é de esperar que, se os outros o engrandeceram pelas armas, ele o torne muito maior e digno de veneração pela sua bondade e outras virtudes infinitas".

in O Príncipe, De Principatibus eclesiasticis (Dos Principados Eclesiásticos), por Maquiavel

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